Fui procurada por uma senhora de seus 74 anos de idade, que buscava ajuda pra seu único filho, alcoolatra, com tuberculose que vive como mendigo pelas ruas apesar de possuir conforto necessário pra viver com dignidade. Mãe me conta que passa por tal situação a vinte anos, obviamente de forma progressiva. Homem, 57 anos, remexe lixeira em busca de comida, pede dinheiro na rua pra mais uma dose, recusa-se ao tratamento da tuberculose por não ser nem mesmo capaz de aceitar a doença.
Perguntei a mãe:
"O que você espera de mim?"
Existem momentos na vida em que meu único sentimento é de total impotência. Como eu queria, ter uma palavra que uma vez dita, mudasse os últimos vinte anos daquela mulher. Como eu queria ser o todo atrativo! Comento sobre a possibilidade de transformar o caso em processo judicial e tentar a interdição do sujeito. A mãe, generosa em seu amor intocável ,apesar de todo sofrimento, não me autoriza. Chora, diz que vão machucar o filho dela, que ele vai viver entre loucos agressivos e mais um milhão de defesas acertivas.
"O que você espera de mim?"
Ela sugere numa voz embargada que eu "converse" com ele, que eu o convença e começa a montar o exato discurso que deseja que eu fale. Acredita essa mulher, em sua insanidade desenvolvida através da doença da cria, que minha boca possa trazer poder de transformação. Acredita, essa mulher, fruto de tanto sofrimento, que minhas palavras seriam mais fortes que o inimigo que ela luta incessantemente, a bebida, a mente anestesiada.
Meu dia aconteceu em torno de tal caso e estou esgotada, porque recebi ligações que me cobravam atitude imediata. Esse senhor está desaparecido a quinze dias, ainda tenho o compromisso de encontra-lo e fazer encaminhamentos que alguém não fez em vinte anos. Droga, to cansada, com uma baita sensação de ser uma merda, de impotência absoluta diante da vontade do outro. Porque se alguém decide se destruir, tem sempre alguém pra acreditar que psicologo ou assistente social tem responsabilidade de trazer essa pessoa de volta a vida produtiva?
Fiquei em estado de tensão o dia todo, mesmo porque estarei sendo julgada profissionalmente durante a resolução do caso, não consegui almoçar direito, senti que joguei veneno em minha corrente sanguinea com tantos pensamentos de cobranças e desejei...desejei muito ter um marido bem rico e que eu ficasse só cuidando de mim o dia todinho,rs...to até rindo enquanto escrevo isso, mas durante o dia, desejei de verdade. Pensei que poderia passar quantas horas quisesse na academia e depois compraria um bonito vestido pra jantar num local bem legal e que ele me amaria profundamente e ficaria feliz em me oferecer mordomias e mimos...Eu sei, enlouqueci por algumas horas no dia de hoje, mas sempre acreditei que mulheres não têm muita resistencia pras cobranças na lida. Temos grandes habilidades mas detestamos críticas e cobranças.
Amanhã é sábado e eu vou trabalhar, acabei de sair do banho, estou com uma toalha enrolada em meu cabelo ainda molhado, não terei tempo de fazer nadica de nada nele, amanhã as seis da manhã estarei parecendo o cão chupando manga e uma unha minha quebrou hoje enquanto nervosa fui puxar uma cadeira pra sentar...Opção: fiz uma aula de jump!
Que coisa mais complicada isso viu Ge, saber que não pode fazer muito principalmente neste caso que seria de intervenção respeitar a vontade da mãe enfim situação difícil... até de comentar depois que li teu post...
ResponderExcluirAi é nestas horas que temos que agradecer a Deus pelos nossos problemas serem mínimos não é mesmo Ge
Te deixo um beijão e muito obrigada pelo seu comentário me fez refletir muito viu , 1º EU <EU ,EU aiaiaiaa vou pirar ( brincadeirinha amiga)
Bj
Dani