Que título daria se minha vida fosse um texto?
Como tenho uma personalidade sarcástica e debochada, acho que daria o seguinte título:
Pára de palhaçada!
Me esgoto diante de pessoas que transformam suas vidas num drama interminável,
me canso diante de discursos amargurados, sofridos e desconectados onde a vida ainda não tocou com mão pesada. Então penso em como essas pessoas ficariam se realmente a desgraça as visitassem.
Tenho sempre um firme pensamento de nunca me levar a sério demais. Isso não significa não ouvir meus desejos e sentimentos mas tentar, tentar e tentar sempre retirar o poder por mim colocado em lugares inadequados.
Se acordo pela manhã e estou viva, com saúde e tenho alimento necessário pra mim e minha família, como posso entregar-me a lamentações mimadas? Como não enxergar a generosidade da vida que me envolve enquanto o chuveiro me banha com agua quente, relaxante e uma toalha limpa e cheirosa seca meus cabelos e meu corpo?
Eu tenho: uma cama confortável pra dormir, tenho um cachorro lindo, forte, que me adora....tenho casa, filhos e emprego...tenho geladeira, fogão e gás pra cozinhar...tenho pai, mãe e irmãos pra compartilhar um churrasco e tenho....o melhor de todas as coisas...inteligência pra enxergar o conquistado.
Há momentos em que cegos, esquecemos que nada a nossa volta existia ...Como quem sofre de alzheimer, o caminho percorrido rumo as conquistas, obscurece e agimos de forma alienada e rebelde onde juramos que merecíamos além. Nesse momento desvalorizo tudo que juntei ao longo de minha existência. Sou feliz todas as vezes que retorno do supermercado e organizo as compras, sou feliz a cada depósito do meu salário mensal, sou feliz enquanto escovo meus cabelos, enquanto visto um novo vestido, quando meu celular toca e é uma voz amiga de alguém que me reconhece como uma pessoa de confiança. Então olho meu jardim, que também não existia e eu coloquei cada grama, cada planta, cada semente...Estou exatamente onde mereço estar, no lugar em que a cada passo me coloquei.
E conheço de verdade pessoas que de uma hora pra outra, perdem tudo. A vida seguia seu rumo normal e , choveu demais...a casa desmonta, os filhos morrem, o cão desaparece...
Nem sei dizer o porque de estar escrevendo sobre tudo isso, mas certa estou de que alguma coisa bem mansa conspira a meu favor. Penso na visita domiciliar feita por mim essa terça feira e lá estava uma mulher magra, gestante, deitada num colchão no chão com um pote cheio de restos de cigarros, adoecida por uso abusivo de substância química, rejeitando o feto no ventre que guerreiro lutava por sobrevivência...ainda sinto o cheiro daquele quarto úmido. Saí dali com sensação de impotência diante da escolha do outro, ou falta de escolha...saí dali com uma paixão latente por mim mesma, que sempre estive ao meu lado, me protegendo e me alicerçando.
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